Atrair ou Destruir Talentos?
ARNALDO MAZZEI NOGUEIRA
é professor titular da FEA-PUCSP, professor doutor da FEA-USP e Pesquisador do Centro de Pesquisa 28 de Agosto.
Em artigo publicado na Folha de S. Paulo de domingo, 24 de abril de 2011, Fábio Barbosa, presidente do Conselho de Administração do Banco Santander e presidente do Conselho da Febraban, chama à atenção para uma importante questão da gestão de pessoas nas empresas: atrair talentos.
Segundo Barbosa, o sucesso de qualquer empresa depende de compreender e motivar os seus funcionários. Argumenta ainda que no contexto atual, “A escassez de gente qualificada e o alto nível de informação disseminada pelo mercado acirram ainda mais a disputa pelos profissionais, sendo, portanto, fundamental saber o que os atrai, onde são mais bem aproveitados e como motivá-los. Por isso, as empresas precisam entender cada vez melhor o que motiva os potenciais candidatos e como criar um ambiente atraente para as pessoas.”
Para Barbosa, a missão não é fácil, e, para atingir o sucesso anunciado, as organizações precisam oferecer algo a mais no trabalho. Em uma palavra: Significado!
No argumento do autor, e, apoiado na pesquisa “Meaning is the New Money” de Tamara Erickson, professora de Harvard, o Significado do trabalho transformou-se em nova moeda ou no principal atrativo dos talentos para as empresas. A pesquisa de Erickson, segundo Barbosa, na busca de entender as novas demandas e os desejos dos trabalhadores no mundo atual, parece concluir o óbvio: o engajamento, o compartilhamento de informações e a performance das equipes dependem do alinhamento entre a busca de significado no trabalho e os valores e o propósito da empresa.
Questionando a idéia: serão mesmo coincidentes o Significado do Trabalho e os propósitos da empresa? O Significado do Trabalho transformou-se em nova moeda e em valor de troca, uma das dimensões apenas da mercadoria. Não se discute o valor de uso, que diz respeito à satisfação das necessidades sociais e ao desenvolvimento das pessoas no trabalho; ou, o que o trabalho agrega para a pessoa como valor muitas vezes inalienável. É o sentido do trabalho mais profundo e não apenas a dimensão contábil e abstrata da mercadoria que está em questão.
Um dos objetivos da pesquisa que estamos desenvolvendo no Centro de Pesquisa 28 de Agosto é, exatamente, examinar os impactos das mudanças organizacionais do sistema financeiro no trabalho dos bancários e no seu significado presente e futuro. E quando perguntamos sobre o significado e as perspectivas do trabalho aos bancários, as respostas não são animadoras e há verdadeiramente uma dúvida a respeito do que se trata quando o assunto é o significado ou o sentido do trabalho. A impressão que se tem nos depoimentos até agora investigados, é que o trabalho nos bancos do meio da pirâmide para baixo não tem o menor sentido – a não ser – vender e obter a renda para sobreviver. Ou seja, esta é uma forma de destruir talentos e pode estar sendo uma das principais estratégias em uso dos gestores do sistema financeiro.